segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Metade

Metade do meu ser é segredo
Parte de mim é vitória,
o consenso no fim é paixão
e a doce ilusão cega.
Porque metade de mim é esperança
mais outra metade, palpite
e outra metade, canção.
Mas cantar a vida é saudar o tempo
Felicidade existe
Porque metade de mim é sensatez
e a outra metade é mentira
Se pudesse vestir azul...
Talvez pudesse,
mas prefiro o vermelho.
Porque metade de mim é sangue
e a outra metade, escuridão
Se canto em prosa o verso humilde,
caio na dança sem querer dançar
Porque metade de mim é valsa
e a outra metade, uma nota mais alta.
Se deveras cair no buraco
da escada ou da varanda
o sol já não mais tem cor
Porque metade de mim é saudade
e a outra, ilusão.


Victor Lourenço

sábado, 19 de setembro de 2009

Experimental

Passado alguns dias monótonos e depressivos, senti a necessidade de traduzir um poema de Murilo Mendes para o teatro, Mapa. É um poema que mostra a evolução de um ser humano minuncioso. A riqueza de detalhes da sua vida. A insinuação de que realmente faz parte de um "movimento" egocêntrico, no qual, ele, mesmo sendo inferior a muitos outros, considera-se importante mudança para as nações, revoluções, transeuntes.
Unindo passagens desse texto e mais outras passagens de textos meus, consegui chegar a uma personagem de absoluta confusão, o qual conseguia ser autoafirmativo e depredativo, em um ambiente pseudo-psicótico. Sua crença era limitada, pois acreditava em anjos e demônios, e santos, quando ele quisera segurar para não ter que cair no esquecimento das pessoas, quando percebera que o seu peito precisava de mais afago, que nunca encontrava, que possuía o cigarro como única fonte de bel-prazer. Sua movimentação cênica era de movimentos lentos, ricos de detalhes, nos quais, aparentemente, pareciam apenas ser dos dedos ao fumar um cigarro ou ao segurar o chão na busca de apoio transcedental, o qual era ilusório. Delírio.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Moda de Sangue

Quando te prendo na cadeia dos abraços
E te torturo e te sufoco entre meus braços
E te fuzilo com os olhos do desejo
Te mordendo no gosto do meu beijo
Quando te arranho te lanho de delícia
Vertendo sangue do teu corpo malícia
Quando te xingo com palavras obscenas
Como jurasse as juras mais serenas
Quando me vingo dos males que me fazes
Com frases de maldade e veneno
Sinto meu amor que o amor é isso

Inverno

O Festival passou e não tive você ao meu lado. "Tristeza não tem fim..." É isso o que acontece com pessoas que querem amar demais, abraçar o mundo: Solidão. Coração de três caminhos. Coração tripartido. Mente que destrói o prazer de conhecer novas pessoas. Mente que destrói a vitalidade, o sorriso. Ainda a saudade aperta o meu coração. A saudade dos beijos molhados, da garoa que rejuvenesce a aurora. Do sorriso lateral. Do poder de perceber quem sou. Do poder de me deixar apaixonado. A saudade que sinto é imensa, mas quero que recomece, que recomece como canções e epidemias; que recomece como as colheitas, como a lua e a covardia. Que recomece como a paixão.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Ao Simples Fato da Existência Caótica

Hoje acordei cedo, muito cedo para quem dorme às três da manhã. O céu estava sorridente, de olhos fervorosos. A manta, quente pelo calor do corpo, se enrolava pelo chão. Minhas pernas, percebidas a noite como uma concha, já estavam se desmanchando em prazeres pelo colchão – em intensos dias de calor, minha libido é muito maior - . Todo meu corpo já estava acordado, abrindo-se para as primeiras horas do dia. Com um dia tão bonito, por que não ir à rua? Ver pessoas ainda sonolentas, aspirar mais grãos de poeira, imaginar a vida de dois amigos que conversam em um ponto de ônibus. Intrigante. Andar por tudo isso, rever pessoas inimagináveis, sonhar com uma pisada torta no chão e o auxílio de um transeunte no centro da cidade. A vida é bonita nas simples coisas, de prestar atenção ao caótico burburinho citadino. Ao caos. Ao sabor do caos. Ao desejo de ser maior do que visões superficiais. Ao desejo de viver alucinações, viver paraísos suspensos, viver bocas molhadas, abraços suados. Necessitar de cores novas, de novos sabores de sorvete, de novas misturas. Experimentar traços, rastros, poesias. Suor.

Noite de Sábado em Paris

Nas rodas do café,
fidalgos dançam
e elucubram através da música.
São vários ritmos que perpetuam conversas bem planejadas.
E eles viajam lento ao nirvana capcioso.
A maioria deles trabalha com o erotismo exacerbado
Falta de vergonha na cara!
Acaba de chegar um alternativo melindroso
cuja face transparece a falta de exercícios
e o excesso de cigarros em noite de festas
e demonstração de roupas e bolsas.
Acaba de chegar a conta,
que assusta até a classe dos que mais aproveitam.
Falta algo a ser digerido:
- Mais uma garrafa de cerveja, porfavor!
Sou mais um culto que merece chegar ao nirvana.
Saímos de lá com mais alguns conhecidos
e mais livros discutidos
e mais teorias sobre peças teatrais
e mais pulmões esfumaçados
e mais uma noite sem dormir.
Mais uma madrugada fria de sábado.
E os cachecóis batem ao vento
já pensando no frio que terão que aguentar na semana que vem
ou amanhã?!
- No mesmo horário, Ok?

Absoluto

Consciente da forma da atualidade sórdida
Vivo no pessimismo de pensar que todos querem
Viver nessa coisa de ideias absurdas
Trajar o luto
Nessa porra de prestígio
Nesse caralho de dúvidas
Nessa fantasia de pensamentos
Nessa fantasia de pensamentos
Nessa repetição de palavras
Na prolixidade do ser
Na condição de ser humano
Pela condição de ser ou não ser
Eis a questão?
Alguns buscam o tudo
outros não buscam
outros não sabem o que é a busca
Alguns buscam a tudo
A tudo que tudo invoca
A tudo que não ilumina
A tudo que o todo aposta
Tudo que todos perdem
Tudo que o todo é nada!

Victor Lourenço