quarta-feira, 15 de junho de 2011

Divagações de uma noite entorpecida: Sobre o Lugar-Encontro...



Tem uma questão de lugar-encontro que é de extrema importância ser resolvida. Antecipando, lugar-comum é a instância da acomodação criativa, o óbvio. O lugar-encontro é a possibilidade - intangível - de articulação dos eventos extra-lúcidos, como o tempo não-limitado, o tempo abstrato, e o espaço, mesmo que lúdico. O lugar-encontro é a plataforma da inconsciência transmitida a fatos reais. A ligação com os sonhos, por exemplo, é uma forma de lugar-encontro. Os devaneios de um entorpecido é uma forma da consciência buscar no infinito do subconsciente o "eu" maior, o maximum, que está no lugar-encontro, onde tempo e espaço podem ser determinados por fatores externos, como o frio, o calor, a altura, a textura etc; internos, como a história da vida do entorpecido. O lugar-encontro, neste caso, é explosivo. Suas características são logo transmitidas para a realidade factual.


Será tu
do feito de impressões?

sexta-feira, 5 de março de 2010

trecho de Vinicius de Moraes

Na treva que se fez em torno a mim
Eu vi a carne.
Eu senti a carne que me afogava o peito
e me trazia à boca o beijo maldito
Eu gritei
De horror eu gritei que a perdição me possuía a alma
E ninguém me atendeu.
Eu me debati em ânsias impuras
A treve ficou rubra em torno a mim
E eu caí.

O Amor

O amor, de longe, diz-me adeus.
Passou. Foi flor e fruto
E hoje é mais nada. Um ramo nu que o vento agita.
O amor foi riso álacre, festa.
Depois silêncio, cinza e tédio.

O amor foi dor, presença ardente
E hoje é uma folha, leve coisa
Que na lembrança vai rolando
Para o gelado esquecimento.

O amor foi canto, voz ardente,
flama e esperança
E hoje é apenas sítio triste,
Paisagem toda envolta em névoa,
Brinquedo de criança morta,
Sombra amada, mas sombra.

O amor é uma cidade abandonada
onde ninguém habita mais.


Augusto Frederico Schimidt

Poema Tirado de Uma Notícia de Jornal

João Gostoso era carregador de feira livre
e morava no morro da Babilônia
num barracão sem número.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas
e morreu afogado.

Manuel Bandeira

quinta-feira, 4 de março de 2010

Caio Fernando Abreu - delícia legítima!

Ele me intimida com suas palavras, as quais achava que eram minhas e não podiam ser ditas, por falta de expressividade, falta de absurdos na vida, ou é só vontade de escrever como ele. Eu não sei...Caio trasparece leveza: lenço a voar pela janela do carro. Ao lê-lo, não me debato, não mordo o travesseiro. Canso-me de insistências inúteis, de ânsias impuras. Gosto de todo o mundo, de sua beleza. Sinto-me amado e, depois, desprezado. Delícia de confronto: não-amor e amor total. Eu chamo de bom combate, que te faz 'crescer' na vida, que deixa a foda mais intensa, entre a luta dos corpos e o impregnar do suor. É um desejo de tomar um banho de cachoeira logo ali, vestir uma roupa larga, preparar um café no final de tarde e sentar na varanda, olhando as grandes árvores centenárias, os enis espalhados pela grama e as almofadas vermelhas e azuis, ao som de Elis Regina.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Metade

Metade do meu ser é segredo
Parte de mim é vitória,
o consenso no fim é paixão
e a doce ilusão cega.
Porque metade de mim é esperança
mais outra metade, palpite
e outra metade, canção.
Mas cantar a vida é saudar o tempo
Felicidade existe
Porque metade de mim é sensatez
e a outra metade é mentira
Se pudesse vestir azul...
Talvez pudesse,
mas prefiro o vermelho.
Porque metade de mim é sangue
e a outra metade, escuridão
Se canto em prosa o verso humilde,
caio na dança sem querer dançar
Porque metade de mim é valsa
e a outra metade, uma nota mais alta.
Se deveras cair no buraco
da escada ou da varanda
o sol já não mais tem cor
Porque metade de mim é saudade
e a outra, ilusão.


Victor Lourenço

sábado, 19 de setembro de 2009

Experimental

Passado alguns dias monótonos e depressivos, senti a necessidade de traduzir um poema de Murilo Mendes para o teatro, Mapa. É um poema que mostra a evolução de um ser humano minuncioso. A riqueza de detalhes da sua vida. A insinuação de que realmente faz parte de um "movimento" egocêntrico, no qual, ele, mesmo sendo inferior a muitos outros, considera-se importante mudança para as nações, revoluções, transeuntes.
Unindo passagens desse texto e mais outras passagens de textos meus, consegui chegar a uma personagem de absoluta confusão, o qual conseguia ser autoafirmativo e depredativo, em um ambiente pseudo-psicótico. Sua crença era limitada, pois acreditava em anjos e demônios, e santos, quando ele quisera segurar para não ter que cair no esquecimento das pessoas, quando percebera que o seu peito precisava de mais afago, que nunca encontrava, que possuía o cigarro como única fonte de bel-prazer. Sua movimentação cênica era de movimentos lentos, ricos de detalhes, nos quais, aparentemente, pareciam apenas ser dos dedos ao fumar um cigarro ou ao segurar o chão na busca de apoio transcedental, o qual era ilusório. Delírio.